Autor: Fábio Anhaia
Mais um dia se inicia na vida de Marilia, desde que completou dezoito anos tem sido assim, uma rotina chata e cansativa.
— Bom dia! — Cumprimenta Ana.
— Bom dia! — Responde Marilia.
Mas porque ela respondeu ”Bom dia”? A vida de Marilia não tem bons dias desde que atingiu a maioridade. Marilia tem um bom emprego e recebe um bom salário, mora em uma boa casa, paga seus impostos como qualquer bom cidadão, qual será o motivo de reclamar tanto?
— Não meu senhor… mas senhor… — Tentava explicar-se Marilia.
— Mas o seu cartão… sim eu entendo, será que o senhor pode me ouvir um pouquinho? — Insistia Marilia.
— Desligou! — Informa Marilia a Ana que trabalha em uma mesa logo a sua frente.
Ana ri da situação, ao contrário de Marilia, ela adora seu emprego e está sempre de bom humor, qual será o segredo dessa fórmula?
— Mais um fim de dia, graças a Deus, não suportava mais! — Declara Marilia.
— É, mais um fim de dia! Obrigada meu Deus! — Agradece Ana.
Em casa Marilia prepara o jantar e após vai direto para cama. Um novo dia se reinicia e Marilia e Ana repetem seus feitos, todo dia era assim, todo dia tudo se repetia, parecia um loop infinito. Ana agradecia esse loop, por outro lado Marilia detestava.
— O pessoal do escritório fará um jantar, vamos comer pizza, você não vem? — Convidou Ana.
— Ah não, tenho muita coisa para fazer em casa! — Recusou Marilia.
— Marilia, vai ser legal, venha conosco, vamos nos divertir! — Insistiu Ana.
— Não! Não tenho tempo, preciso limpar a casa e tenho vários outros afazeres! — Concluiu Marilia.
No meio da noite Marilia abre suas redes sociais e percebe diversas fotos postadas pela equipe do escritório, todos pareciam felizes e aparentemente se divertiram muito. Marilia desliga o telefone e vira-se de lado, ela pensa sobre como seria se tivesse participado e em meio aos pensamentos adormece.
E o loop seguiu por diversos anos, com o passar do tempo Marilia foi se tornando mais amarga, perdia a paciência com qualquer coisa e conversava cada vez menos com Ana. Por outro lado, Ana viveu feliz, se casou, teve filhos e nunca tirou seu sorriso do rosto, mesmo com as ofensas que ouvia de Marilia no trabalho, Ana sabia que não eram por mau e por isso as ignorava.
Hoje no fim da vida Marilia se questiona o que pode ter acontecido com Ana, ela inveja a vida que a colega teve e percebe em uma cadeira de balanço de um asilo que ela poderia ter reclamado menos e vivido mais. Tempo ela teve de sobra, a cada novo dia, surgia uma nova chance, e se hoje alguém solicitasse um conselho a ela, obviamente seria:
Aproveite a cada chance que lhe é dada a cada novo dia.
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