
Autor: Fábio Anhaia
Na floresta Iboni acorda e percebe a presença de Ynibi, ainda meio tonto sem entender o que está acontecendo Iboni percebe que Ynibi o cobre, já que ele está nu, Ynibi questiona:
– Iboni, o que aconteceu?
– Estou bem, preciso ir. – Disse Iboni levantando-se.
– Ir para onde? Preciso te levar a aldeia, todos estão preocupados Iboni, estamos te procurando a dias! – Respondeu Ynibi.
– Ynibi, não posso voltar a aldeia, você não entende, é complicado, o que vocês precisam saber é que vou deter a Rainha Negra, volte a aldeia e conte a todos, eles não precisam se preocupar. – Declarou Iboni.
– Mas Iboni, como vai detê-la sozinho? Não consigo entender? – Questionou Ynibi.
– Não se preocupe, tenho uma carta embaixo da manga, vai ficar tudo bem, e quando voltar vou reivindicar sua mão, vamos nos casar e ser felizes juntos! – Afirmou Iboni.

Ynibi fica assustada com a declaração de Iboni, porém não pode discordar da afirmação do jovem, afinal ela aceitou a condição de seu pai, se casará com o guerreiro mais corajoso da tribo, porém seu coração está triste pois sabe que o único que é capaz de amar de verdade é Panimbi. Após a conversa Iboni entra mata adentro e some aos poucos, Ynibi retorna a aldeia e quando chega em sua tenda é questionada por Panimbi:
– Ynibi!? Onde estava?
Ynibi responde:
– Panimbi!? Estava na mata, precisei respirar, não conseguia dormir, estou preocupada com Iboni.
– Iboni está bem! Logo ele aparece, fique tranquila. – Respondeu Panimbi a convidando para voltarem a dormir.

Na manhã seguinte no castelo da Rainha Negra, o General Kurtz reúne sua tropa para ir a um treinamento de batalha.
– Reúna todos os homens, vamos ao campo de treinamento, precisamos nos preparar caso aquela besta ataque novamente. – Disse o General.
O General está seguindo para o portão e encontra o Corvo Azul no caminho:
– Bom dia Tamaki! É assim que te chamam, não é? – Disse o General.
– Bom dia General! Exatamente! – Respondeu o Corvo Azul!
– Aconteceu alguma coisa? Percebi que reuniu os soldados. – Questionou o Corvo Azul.
– Não, estamos indo ao campo de treinamento, precisamos estar preparados caso aquele monstro apareça. – Respondeu o General.
– Agora se você me der licença, preciso ir! – Declarou o General saindo pelo portão.

Tamaki observou o General sair com seus homens, ele olha para o General como se visse através dele, o General percebeu e sentiu-se desconfortável, Tamaki então ri e entra no castelo.
– General? – Disse um soldado.
– Sim. – Respondeu o General.
– Podemos ir? – Questionou o soldado.
– Vamos! – Declarou o General cavalgando em direção a mata.
Chagando ao campo o General organiza seus homens e começa um treinamento, o general apresenta aos soldados diversos modelos de armas que eles nunca haviam visto, o General os auxilia e ensina a cada homem como usar as armas, um soldado então questiona:
– Essas armas, serão capazes de derrotar aquele monstro?
– Essas armas são capazes de matar qualquer coisa! – Declarou o General.

Na mata Iboni caminha até chegar a um riacho, ele senta-se e começa a beber um pouco de água, de repente ele ouve alguns sussurros vindo de longe, Iboni segue o barulho e chega ao campo de treinamento do General:
– Mas o que é isso? – Questiona Iboni a ele mesmo escondido atrás de uma árvore.
Após uma análise do que via, Iboni chega a conclusão:
– É um campo de treinamento! Eles pretendem atacar a aldeia! – Concluiu Iboni.
Iboni volta a mata e em frente a cachoeira, deixa o manto de Ynibi ao qual estava enrolado cair, fecha os olhos e começa a se concentrar, Iboni está prestes a se transformar na besta novamente, porém é interrompido por uma voz:
– Índio! Não se mova, o que está havendo aqui? – Era a voz do General Kurtz apontando uma espada em direção a Iboni.
Iboni vira-se e encara o General, o General olha para Iboni e sente algo estranho, uma sensação que nunca havia sentido antes, normalmente naquela situação o General já havia arrancado a cabeça do índio a muito tempo, porém quando olhou para Iboni, algo o fez pensar e ele não sabe o que é.
– Quem é você? E o que faz aqui! – Questionou o General.
– Eu sou Iboni! Estou perdido! – Respondeu Iboni.
– Perdido? – Perguntou o General.
– Sim! – Declarou Iboni.
– Onde estão suas roupas? – Perguntou o General.
– Eu fui atacado por homens da aldeia, fiquei apenas com esse manto. – Respondeu Iboni.
– E por que eles te atacaram e só levaram suas roupas? A ordem dada pela rainha é para que todos que encontrarem um de vocês entreguem imediatamente aos soldados! – Declarou o General.
– Eu não sei, simplesmente levaram tudo e me deixaram vivo. – Respondeu Iboni.
– Mas e você? Não vai me matar? – Questionou Iboni.
O General olhou para Iboni, seu coração entrou em agonia, ele nunca sentiu nada daquele tipo antes, não entende o que está se passando, então o General responde:
– Parece que é seu dia de sorte, encontrou duas pessoas do reino e saiu vivo. – Declarou o General deixando Iboni para trás.
Iboni respira aliviado junta o manto de Ynibi e entra em uma caverna que descobriu atrás da cachoeira, sentado e olhando para fora Iboni pensa:
– Por que ele não me matou?
Iboni dá um sorriso e diz:
– Preciso de roupas!
De volta ao castelo o General chega do campo de treinamento e vai direto aos seus aposentos, no seu quarto dentro de uma banheira de água quente o General começa a questionar a si mesmo:
– O que aconteceu? Como eu não o matei?
É tudo muito estranho para o General, afinal ele é o braço direito da Rainha, tudo o que ela manda, ele executa sem nem pensar, mas com aquele índio é diferente, o General simplesmente sente que não pode matá-lo.
– Preciso ver o Corvo Azul! – Declarou o General saindo da banheira.
O Corvo Azul está em seu quarto aguardando o jantar ser servido, quando ouve batidas em sua porta, ele abre e para sua surpresa o General Kurtz está do outro lado:
– General? Aconteceu algo? – Questionou o Corvo Azul.
– Sim, quero que desfaça! Aliás eu ordeno que desfaça! – Disse o General entrando no quarto.
– Desfazer o que? Não sei do que está falando General! – Disse o Corvo Azul.
– Você sabe muito bem do que eu estou falando, hoje pela tarde quando eu estava saindo para o campo de treinamento, você lançou algum tipo de feitiço em mim, não sei o que era, mas desfaça agora! – Disse o General de forma alterada.
O Corvo Azul ri e responde ao General:
– Eu não lancei nenhum feitiço em você, por qual motivo eu faria isso?
– Você é um índio, assim como todos os outros, você me enfeitiçou por vingança! – Afirmou o General.
O Corvo Azul volta a rir e responde:
– General Kurtz, eu não amaldiçoei ninguém, não é assim que trabalho, estou aqui para ajudar os índios sim, mas não seria capaz de amaldiçoar você, se fosse para ser assim, eu já teria feito quando cheguei, não acha?
O General pensa sobre o que o Corvo Azul diz e se arrepende da acusação.
– Mas por que você acha que eu te enfeiticei? – Questiona o Corvo Azul.
– Tamaki, aconteceu uma coisa essa tarde, encontrei um índio na mata, não consegui matá-lo, eu não sei o que me deu, eu olhei para ele e simplesmente não consegui, era como se algo me impedisse! – Revela o General.
O Corvo Azul pega na mão do General e diz:
– Às vezes o grande espírito nos impede de fazer coisas que vamos nos arrepender depois!
O General sem entender questiona:
– Arrepender? Por que me arrependeria? Matei milhares de índios a minha vida toda, por que me arrependeria da morte um agora?
– Não devemos questionar o que o grande espírito faz, só devemos aceitar! Nunca esqueça disso General. – Declarou o Corvo Azul.
– E vai ser assim agora? Não matarei nenhum índio nunca mais? – Questionou o General.
– Isso não sou eu quem vai responder. – Respondeu o Corvo Azul indo em direção ao General.
– Ele é quem tem a resposta! – Declarou o Corvo Azul com a mão sobre o coração do General.
Antes que o General pudesse questionar, um dos empregados da Rainha chama-os para o jantar.
– O jantar está servido senhores.
– Estamos descendo. – Respondeu o Corvo Azul.
– Não adianta me questionar mais General, já disse, não tenho a resposta. – Respondeu o Corvo Azul deixando o quarto.
Após o jantar todos vão para seus quartos e adormecem, o General passou a noite toda pensando no que havia acontecido, na manhã seguinte tomou uma decisão:
– Eu vou atrás dele! – Declarou o General.
O General monta sobre seu cavalo e cavalga em direção a mata, chegando à cachoeira ele começa a procurar pelo índio.
– Perdeu alguma coisa General? – Questionou o índio sentado no alto de uma árvore.
O General vira-se assustado e responde:
– Olá, eu não vi que você estava aqui.
– Não respondeu a minha pergunta General. Por que voltou? – Perguntou o índio.
– Eu passei a noite sem dormir pensando no que aconteceu, porque eu não consegui te matar, então eu conversei com um amigo que também é índio… –Explicava o General até ser interrompido.
– Amigo? Índio? Como você tem um amigo índio? – Questionou o índio.
–…É uma longa história, o nome dele é Tamaki, chamam ele de Corvo Azul, como eu dizia ele me disse que o grande espírito as vezes nos impede de fazer algo que vamos nos arrepender, então eu preciso saber, por que eu não consegui te matar ontem? – Concluiu o General.
O índio olha para o General confuso e responde:
– É uma ótima pergunta! Só que eu também não sei a resposta General, eu poderia ter te matado naquele momento, mas também não consegui, talvez seja uma maldição, não podemos matar um ao outro nunca! – Disse o índio com um tom de voz sério, e terminou a frase com um tom de deboche.
O General olha para o índio e revida:
– Não seria possível. Nunca fui amaldiçoado e disso tenho certeza.
Os dois riem e o General cumprimenta:
– Sou o General Kurtz.
O índio responde:
– Sou Iboni.
– Então Iboni, por que esta nú? – Questionou o General rindo no final.
– Já te respondi essa pergunta ontem. – Respondeu Iboni.
– Bom, eu trouxe algumas roupas e comida, você mora aqui? – Questionou o General.

Iboni hesitou em responder, mas pensou consigo mesmo que se o General fosse matá-lo ou entregá-lo a Rainha, já teria o feito.
– Não tenho um lar, estou dormindo atrás daquela cachoeira. – Respondeu Iboni.
– Bom, não é um bom lugar para se dormir, mas é melhor que nada. – Disse o General entregando as roupas e a comida a Iboni.
Iboni pega as roupas e veste ali mesmo, após isso Iboni convida o General a entrar em sua caverna, na caverna os dois conversam, Iboni contou ao General que estava perdido após sofrer um assalto de pessoas do reino, Iboni não contou ao General sobre a aldeia e nem sobre seu plano de matar Elisabeth, ele pensou que poderia engana-lo e assim chegar a Rainha mais fácil, só que assim como o General, Iboni sente algo estranho em relação a eles, era como se eles já se conhecessem a muito tempo.
– Eu lamento o assalto, eu sou General da Rainha, não tenho muita coisa a contar, eu vivo para proteger a coroa. – Disse o General.
Após a conversa eles percebem que se passou muito tempo e o General resolve partir, na despedida o General olha para e Iboni e diz:
– Eu não sei por que isso aconteceu comigo, mas eu gostei de te conhecer Iboni, espero que possamos ser amigos, de verdade.

Iboni, sentindo-se culpado de mentir ao General responde:
– Eu também espero General, de coração.
– Até mais Iboni, eu volto para te trazer mais comida! – Disse o General.
– Obrigado Kurtz, e até mais. – Despediu-se Iboni.
Continua…
Deixe um comentário