
Capítulo 3 – O Homem nas Sombras.

Fevereiro 1996.
Elisa prepara o bebê e vai até uma amiga advogada para preparar tudo para a adoção, a advogada organiza todos os documentos e juntas vão ao cartório, no cartório Elisa toma uma nova decisão.
— Bem, o nome será… — Pensou Elisa.
— Pedro! O nome dele será Pedro Assunção.
A advogada olha para Elisa e entende o recado.
— Nome da mãe? — Questionou a atendente.
— Maria Assunção! — Respondeu a advogada.
— Sou eu, eu sou a mãe adotiva dele. — Concluiu Maria.
Após saírem do cartório Maria questiona o motivo de Elisa não ter registrado o bebê em seu nome.
— Não posso Maria, já tenho quarenta anos, daqui dez anos esse bebê será como um neto, não podia registrá-lo, vou cuidar dele e você não precisa se preocupar com nada. Obrigado pelo favor. — Disse Elisa.
— Tudo bem, sabe que pode contar comigo, mas o que dirá a ele quando perguntar pela mãe? — Questionou Maria.
— Direi que era minha filha e morreu! — Respondeu Elisa.
— Mas Elisa e se ele me procurar? — Perguntou a advogada.
— Ele não vai, e quem sabe até lá eu encontre a família dele não é mesmo? — Declarou Elisa.
— Tudo bem, qualquer coisa é só me chamar. — Concluiu Maria.
Elisa chega no portão de sua casa com o bebê e tem a sensação de estar sendo observada, aquela sensação a perseguiu a manhã toda, mas a enfermeira não sabe de onde vem. Ao pegar as chaves do portão ela percebe uma movimentação próximo à esquina, quando se vira para olhar Elisa vê apenas a sombra de um homem.
Elisa entra com Pedro e começa a olhar pela janela, ela não percebe ninguém estranho, a única pessoa que está na rua é Nicolau, o irmão de sua vizinha, Nicolau é motorista de um homem muito rico na cidade e isso é tudo o que Elisa sabe sobre ele.
Elisa da um banho no bebê, e o põem para dormir, após a criança adormecer ela liga ao hospital e informa que precisa de uma licença, a enfermeira explica tudo e consegue a licença, serão três meses em casa com o bebê.
A noite chega e Elisa deita-se para dormir, o dia foi longo e ela passou o dia arrumando o quarto para Pedro, a enfermeira não podia negar que estava se apegando cada vez mais pela criança. No meio da noite Elisa ouve um barulho vindo do quarto de Pedro, a enfermeira corre para verificar, a janela estava aberta e mais uma vez ao olhar Elisa percebe a sombra de um homem fugindo de seu pátio.
— Meu Deus! O que é isso! — Disse Elisa assustada.
Elisa pega Pedro no colo e o leva para seu quarto, no dia seguinte ela liga para Maria e a convida para um café, a advogada e amiga aceita e vai até a casa da enfermeira, ao chegar Elisa conta tudo o que aconteceu na noite passada.
— Meu Deus Elisa, você precisa ir à polícia! — Aconselhou Maria.
— Não, eu resolvo isso, deixa comigo! — Revelou Elisa.
— E o que você está pensando? — Questionou Maria.
— Aguarde e você verá! — Respondeu Elisa.
Do outro lado da cidade Marieta e Álvaro aproveitavam belos dias ao lado do pequeno Felipe.
— Ele é lindo, não é? — Disse Álvaro.
— É, ele é perfeito! — Concordou Marieta.
— Você o acha mais parecido comigo ou com você? — Questionou Álvaro.
Marieta assustasse, e de repente têm uma sequência de lembranças assustadoras sobre tudo que fez para conseguir o bebê.
— Com você! Com certeza com você! — Respondeu Marieta.
Álvaro sorri e olha para a esposa a beijando.
— Eu te amo Marieta! — Declarou-se Álvaro.
— Eu te amo Álvaro! Amo vocês dois! — Disse Marieta.
Naquela tarde Elisa chamou um metalúrgico que colocou grades em sua casa, Elisa também aproveitou e mudou todas as fechaduras naquele dia.
— Se alguém pensa que vai invadir minha casa, está muito enganado! — Disse Elisa.
— Boa tarde! — Cumprimentou Nicolau.
— Boa tarde! — Respondeu Elisa.
— Colocando grades? — Questionou o motorista.
— Sim! Tentaram invadir minha casa ontem a noite! — Declarou a enfermeira.
— Meu Deus, mas levaram algo? — Perguntou Nicolau.
— Não, cheguei a tempo de evitar o pior. — Declarou Elisa.
— E você viu quem foi? — Questionou o motorista.
— Não, mas vou descobrir! — Concluiu Elisa.
A noite chega e Elisa está na sala assistindo televisão, a enfermeira está inquieta, não tira os acontecimentos da noite passada da cabeça. Elisa leva Pedro ao quarto e vai para o seu se preparar para dormir, a enfermeira ouve novamente um barulho vindo do quarto do bebê, mas dessa vez ao invés de ir até o quarto Elisa corre para o lado de fora da casa com um revólver na mão, quando chega no local vê um homem pulando o muro, Elisa dispara dois tiros para o alto e o homem corre para escapar.
— Volta aqui para você ver se não te meto um tiro nas fuças vagabundo! — Disse Elisa toda valente.
Os vizinhos logicamente, saíram na rua verificar o que estava acontecendo, Elisa conta a história e deixa todos em choque.
— Mas agora tenho certeza de que ele não retornará! — Declarou Elisa orgulhosa.
Março de 2002.
Seis anos se passam e Pedro já está indo para seu primeiro dia de aula, Elisa arruma a lancheira do “neto” enquanto ele termina de escovar os dentes. Em todos esses anos a enfermeira buscou informações sobre o paradeiro da família de Pedro, mas nunca encontrou.
— Anda Pedro, estamos atrasados! — Disse Elisa.
— Já estou indo vovó! — Respondeu Pedro.
Elisa leva Pedro para a escola, no caminho ela pensa em como vai explicar para o pequeno que ela não poderá ficar com ele enquanto ele estiver na escola, ela olha pelo retrovisor e observa-o na cadeirinha balançando seus pés e cantarolando alguma cantiga. Pedro é uma criança extraordinária, ele sempre foi muito dócil, gentil e inteligente.
Em um bairro de classe alta do Rio de Janeiro, Marieta termina de arrumar a mochila de Felipe e Vitória, após dois anos do “nascimento” de Felipe, Marieta apresenta a Álvaro exames que mostram que a esposa não poderá mais ter filhos, juntos os dois resolvem adotar uma menina, a chegada de Vitória foi a maior alegria para Felipe.
— Anda Felipe, Nicolau já nos aguarda! — Disse Marieta.
— Estou pronto mamãe. — Respondeu o pequeno Felipe.
Ao contrário de Pedro, Felipe é um menino muito levado, adora aprontar com as pessoas e os próprios animais de estimação, certa vez Marieta o encontrou cortado os pelos do cachorro da família.
Na escola Elisa e Pedro descem do carro. Elisa leva-o até a porta da sala e começa a procurar palavras para explicar a situação a Pedro.
— Então meu amor, a vovó não vai poder ficar aqui com você, mas você vai perceber que aqui também é legal e tem…. — Dizia Elisa.
— Tudo bem vovó, você pode ir, vou ficar bem! — Declarou o pequeno.
Elisa fica espantada com a maturidade do menino, mas ao mesmo tempo está orgulhosa do neto.
— Eu te amo Vovó! — Disse Pedro a beijando.
— Eu te amo Pedro! — Respondeu Elisa.
— Agora vai, vai logo ou quem vai acabar chorando sou eu. — Diz Elisa levando-o em direção a porta da sala.
Pedro entra na sala de aula e Elisa dirige-se ao portão da escola, no caminho a enfermeira percebe a presença de um homem a observando, ele está de capacete em uma moto e por esse motivo ela não conseguiu identificá-lo, mas havia um detalhe que Elisa se lembra muito bem, a camisa xadrez.
Na noite que tentaram invadir sua casa pela segunda vez Elisa quase pegou o invasor, mas ele escapou, porém ela lembra-se muito bem da camisa que ele usava, Elisa tem certeza, era uma camisa xadrez. Ao perceber que Elisa o reconheceu o motoqueiro misterioso foge.
Em meio as lembranças, Elisa se esbarra com uma criança no portão.
— Opa, cuidado meu bem, se machucou? — Questionou Elisa.
— Não! — Respondeu a criança correndo em direção a sala de aula.
— Ah, me desculpe, meu filho não tem jeito. — Desculpou-se Marieta.
— Está tudo bem, não foi nada! — Respondeu Elisa.
Após esses acontecimentos a enfermeira vai para o trabalho. No hospital ela e Jade conversam sobre o que vem acontecendo com Elisa e Pedro.
— É desde o dia da chegada dele Jade, sempre vejo essa sombra desse homem. — Revelou Elisa.
— Mas ele já tentou alguma coisa? — Questionou Jade.
— Não, nunca! — Respondeu Elisa.
— E quem você acha que pode ser? — Perguntou Jade.
— Já pensei em milhares de possibilidades, mas a única que me vem a mente é… — Disse Elisa fechando a porta da enfermaria para que ninguém escute.
— Jade, e se for o pai daquele bebê que trocamos naquela noite? — Disse Elisa.
— Não Elisa! Por que ele te perseguiria? — Revidou Jade.
— E se o Pedro for aquele bebê? Não lembro do rosto dele, foi tudo tão rápido! — Declarou Elisa.
— É impossível, eles nunca vão descobrir que os bebês foram trocados! Tire essa ideia maluca de sua cabeça! Além de que, o filho deles morreu! — Concluiu Jade.
Após a conversa com a amiga, Elisa volta ao trabalho. No fim do dia a enfermeira passa na escola e pega Pedro para ir para casa, no caminho de casa eles passam no supermercado, Pedro adora ir ao supermercado, ele senta-se no carrinho e se sente um piloto de fórmula um. Por um momento Elisa deixa-o sozinho para pegar uma cartela de iogurte no freezer, quando retorna a atenção ao carrinho ela perde o chão, o menino havia sumido.
A enfermeira inicia uma maratona de busca pelo mercado, depois de passar por diversos corredores ela encontra Pedro conversando com um homem, ao reparar a camisa xadrez do rapaz Elisa entra em desespero novamente.
— Se afaste do meu neto! — Gritou Elisa ao rapaz.
— Pedro, saia de perto dele! — Ordenou Elisa.
Ao se aproximar Elisa percebe que o homem com quem Pedro conversava era Nicolau.
— Nicolau? — Disse Elisa.
— Olá Elisa! Tudo bem? Me desculpe, vi o Pedro e só queria mostrar a ele essas balas, não sabia que faria mal, nos conhecemos a tanto tempo… — Disse Nicolau.
Elisa o observa ainda em choque, pega na mão de Pedro e o leva até o carrinho.
— Está… bem… anda Pedro, vamos para casa! — Disse Elisa pegando a mão do neto.
No caminho para casa Elisa não diz uma palavra, ela não consegue tirar a camisa de Nicolau da cabeça, a enfermeira tem certeza de que aquela é a mesma camisa do Homem nas sombras!
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