
Capítulo 5 — Vidas Opostas.

Julho de 2008.
Pedro chega aos doze anos e como qualquer criança nessa idade ele é muito travesso. Elisa é chamada a escola por conta de uma travessura aprontada por Pedro e um coleguinha, Felipe.
— Senhora Elisa, é a diretora da escola, por gentileza solicitamos que a senhora compareça a diretoria imediatamente. — Disse a diretora.
— O que foi que ele fez dessa vez? — Questionou Elisa.
— Bem, aqui explicaremos melhor, mas já adiantando ele e Felipe devem ser separados de turma. — Respondeu a diretora.
Elisa corre até a escola para resolver o problema com Pedro, ao chegar no local a enfermeira tem uma surpresa, o pai de Felipe também foi chamado, e ao perceber quem é o pai do menino, Elisa entra em choque.
Dona Elisa, senhor Álvaro acompanhem-me até a direção. Na sala da direção a diretora contava as peripécias e confusões que Pedro e Felipe aprontaram, mas Elisa não consegue se concentrar pois entrou em choque ao ver Álvaro ali.
— Façam o que for melhor para escola, se eles não podem ficar juntos, então separem os dois de turma. — Disse Elisa a diretora.
— Pois bem, está resolvido! Se a senhora me dá licença eu preciso ir, desde que minha esposa morreu meus filhos e minha família dependem de mim! — Declarou Álvaro.
— Independente da situação, foi um prazer Senhora…? — Continuou Álvaro estendendo a mão a Elisa.
— Elisa! Meu nome é Elisa! — Respondeu a enfermeira cumprimentando o empresário.
— Tenham um bom dia! — Concluiu Álvaro deixando a sala.
No fim do dia Elisa e Pedro estão em casa, enquanto a avó prepara o jantar Pedro termina a lição de casa.
— Vó, a senhora está bem? — Questionou Pedro.
— Está triste por minha culpa? — Continuou o menino.
— O que, não meu filho, claro que não, só estou cansada, o dia no hospital foi puxado. — Respondeu Elisa.
— A senhora não deveria mais trabalhar tanto assim! — Disse Pedro.
— Ah que isso, tenho cinquenta e dois anos, não sou tão velha. — Respondeu Elisa fazendo os dois rirem.
— Mas também estou chateada com você, meu filho nós não temos condição de pagar aquela escola, a bolsa que você tem é preciosa, você não pode arriscar perder. — Disse Elisa.
— Eu sei, me desculpe vó, não farei mais esse tipo de brincadeira. — Respondeu Pedro abraçando a avó.
— Pedro, tem mais uma coisa que quero te pedir, quero que se afaste do Felipe! — Pediu a enfermeira.
— O que? Mas por quê? Eu já disse que não vou mais aprontar na escola. — Questionou Pedro.
— Pedro, não me questione, apenas faça o que digo, é para o seu bem! — Declarou Elisa.
— Mas Felipe é meu melhor amigo vó! — Insistiu o menino.
— Pedro! — Declarou Elisa.
— Tudo bem… — Disse Pedro renegado.
No dia seguinte Pedro chega à escola e encontra Felipe a sua espera.
— Oi Pedro! E aí, o que vamos aprontar hoje? — Perguntou o menino.
— Me desculpe Felipe, minha vó disse que não podemos mais nos falar. — Respondeu Pedro.
— O que? A sua vó é uma velha doida! Você é meu melhor amigo! Não pode parar de falar comigo! — Disse Felipe indignado.
— Não fale assim da minha vó, ela não é doida e tudo que faz é para o meu bem! — Respondeu Pedro chateado.
Felipe sai correndo para a sala de aula enquanto Pedro fica para trás. Na porta da sala Pedro é atacado pela professora que o impede de entrar.
— Venha comigo Pedro, a partir de hoje essa não será mais sua turma! — Declarou a Professora.
Pedro segue com a professora até sua sala nova, para ele não foi difícil entender o pedido da avó, ele a ama e quer dar muito orgulho a ela. Felipe já não aceitou a separação deles tão fácil, ele sempre foi uma criança problemática e nunca aceitou a morte da mãe, Felipe sempre teve certeza de que seu pai tinha alguma coisa a ver com a morte dela.
Fevereiro de 2016.
Quatro anos se passaram desde que Pedro deixou de falar com Felipe, mas o menino sempre reparou que o amigo não conseguiu lidar com esse distanciamento como ele. Agora com dezesseis anos Pedro resolve dar um oi, eles já não são mais crianças, eles não irão aprontar e sua avó não os impedirá de serem amigos.
Na escola Pedro cumprimenta Felipe.
— Oi!
Felipe olha para Pedro com desprezo.
— O que o favelado da escola pensa que está fazendo?
— Felipe, eu só… — Dizia Pedro.
— Ei, ei ei ei… nem mais uma palavra, não falo com gentinha da tua laia não! — Respondeu Felipe.
Pedro sente-se constrangido e percebe que todos na escola estão olhando para ele. O rapaz não entendia por que daquela atitude de Felipe, ou talvez entendesse, afinal ele abandonou o amigo no momento mais difícil de sua vida.
— Tudo bem, entendo… — Dizia Pedro.
— Você não entende nada, gentinha como você não deveria estar no mesmo ambiente que gente como eu, vocês só servem para uma coisa, limpar a nossa sujeira! — Declarou Felipe.
Após a escola Pedro chega em casa e encontra a avó preparando o almoço, Elisa agora é aposentada e não precisa mais trabalhar, já é hora de Pedro cuidar do futuro dele, e o rapaz está ansioso para conseguir um emprego.
Pedro largou currículo em diversas empresas, mas ninguém ainda havia chamado o rapaz, mas ele mantém firme a esperança, ele sabe que quando fosse para ele o emprego virá.
Por outro lado, Felipe nem precisa procurar, ele já tem a vida feita, assumirá o lugar do pai no comando das redes de supermercados da família, fora isso ele ainda tem uma herança bem gorda da falecida mãe.
— Felipe, troque de roupa, vá vestir algo adequado, hoje você irá comigo para o escritório! — Disse Álvaro ao filho.
— Tudo bem, vou me tocar vossa excelência! — Respondeu Felipe irritando o pai.
No escritório Álvaro mostra e ensina todos os seus afazeres a Felipe, por todo o tempo que esteve aprendendo Álvaro se surpreendeu com o filho, ele parecia outra pessoa, dedicado e interessado em aprender.
Enquanto isso no RH de um dos supermercados a responsável seleciona um currículo, é o de Pedro eles selecionam e o chamam para uma entrevista, o rapaz como sempre muito carismático consegue o emprego.
Alguns meses depois…
Pedro está a alguns meses trabalhando como repositor do supermercado gerenciado pela família de Felipe, ele adora o emprego, têm bons amigos e é um funcionário excelente. Enquanto isso Felipe continua a aprender tudo o que o pai o ensina com muito empenho, Felipe têm tudo para se tornar um presidente ainda melhor que o pai para as empresas.
— Essa noite é seu aniversário filho, vamos fazer um jantar e comemorar! — Disse Álvaro.
— Não quero comemorar, meus aniversários perderam a graça desde que a mamãe se foi. — Respondeu Felipe.
Álvaro percebe a angústia do filho, mas nunca teve coragem de admitir que a esposa se suicidou porque descobriu de todas as suas traições.
— Você que sabe! — Respondeu Álvaro.
Álvaro deixa Felipe no escritório e parte para a uma das lojas da rede de supermercados, no meio de seu passeio pela loja ele observa um funcionário, ele é muito eficiente, cativante e muito prestativo, chamou tanto a atenção de Álvaro que o próprio foi até ele cumprimentar.
— Boa tarde Rapaz! — Disse Álvaro.
— Boa tarde! Posso ajudar? — Respondeu Pedro.
— Primeiro me diga seu nome? — Perguntou Álvaro.
— Meu nome é Pedro. — Respondeu o rapaz.
— Eu sou Álvaro! — Apresentou-se o empresário.
— Senhor Álvaro, o dono da rede? Nossa, é um prazer conhecê-lo — Falou Pedro estendendo a mão.
— Bom preciso ir, só queria te parabenizar pelo trabalho, você é muito bom mesmo, e me tem um rosto familiar… bem preciso ir! — Disse Álvaro indo em direção a saída do mercado.
A noite Pedro chega em casa e conta para a avó que conheceu o patrão, Álvaro, o dono da rede de supermercados.
— O que? — Diz Elisa derrubando um copo.
— Vó!! Cuidado, a senhora está bem? — Perguntou Pedro preocupado.
— Sim, estou, só… Pedro você o conheceu? — Disse Elisa ainda em choque.
— É, mas ele só me parabenizou pelo trabalho, cuidado com os cacos, deixa que eu limpo. — Disse Pedro a avó.
— E ele falou mais alguma coisa? — Questionou Elisa.
— Bem, ele disse que tenho um rosto familiar para ele, mas nem questionei, ele estava com pressa. — Respondeu Pedro.
— Pedro, eu não acho bom você continuar nesse emprego… — Disse Elisa.
— O que? Como assim vó? — Perguntou o rapaz.
— Não é nada demais, só estou com um pressentimento, você deveria sair desse mercado! — Declarou Elisa.
— Vó, levei anos para conseguir esse emprego, não vou desistir dele, está tudo bem, não precisa se preocupar! — Respondeu Pedro.
Depois do jantar eles vão para seus quartos e Elisa conversa consigo mesmo.
— Eu preciso arrumar um jeito de tirá-lo desse supermercado, ele não pode mais se encontrar com o Álvaro.
Na casa de Felipe, mesmo contra a vontade do rapaz, o pai e a irmã fazem um jantar para comemorar seu aniversário, o rapaz recebe alguns presentes e todos vão dormir. Em seu quarto Álvaro pensa no interesse de Felipe em comandar as empresas, ele conhece muito bem esse interesse pois ele fez o mesmo com seu pai.
— Preciso pôr mais alguém naquele escritório! — Disse Álvaro.
— Alguém que eu possa confiar. — Concluiu Álvaro.
No dia seguinte todos levantam e tudo se reinicia, Álvaro e Felipe vão para o escritório e Pedro vai para o trabalho, na chegada da loja Pedro dá de cara com Felipe que não gosta nada de rever o “ex-amigo”.
— O que esse cara faz aqui? — Pergunta Felipe ao gerente da loja.
— Ele é nosso funcionário senhor, um dos melhores inclusive! — Respondeu o gerente.
Algumas horas depois, Felipe está na sala da gerência cheio de ódio e arma um plano para demitir Pedro, ele não pode simplesmente demitir, existem todas as leis a favor do funcionário, mas Felipe é ardiloso e sabe bem o que fará. Ele vai até o vestiário, descobre o armário de Pedro e põem seu relógio dentro, Felipe chama o gerente e arma uma confusão afirmando ter sido roubado.
— Fechem as lojas! Revistem os armários! — Ordenou Felipe.
Pedro e os colegas ficam em choque com a possibilidade de um deles ser o culpado. Em meio a revista os seguranças encontram o relógio no armário de Pedro.
— O que? Eu não roubei nada! — Afirmou Pedro incrédulo.
— Não é o que parece, ladrão! — Declarou Felipe.
— Junte seus trapos e suma da minha loja, e agradeça por não chamarmos a polícia! — Continuou Felipe.
— Sempre soube que você passava fome, mas nunca achei que seria capaz de roubar! — Concluiu Felipe olhando com desprezo a Pedro.
— Eu não roubei nada! Isso tudo é uma injustiça! — Declarou Pedro.
— Suma daqui e nunca mais tente pedir emprego em uma das MINHAS lojas! — Disse Felipe o expulsando.
Pedro vai para casa e conta para a avó tudo que aconteceu, Elisa tenta acalmar o neto e o consola.
— Meu filho, tudo acontece por uma razão, não fique assim, Deus sabe de todas as coisas. — Disse Elisa.
— Você vai encontrar coisa melhor, eu te garanto! — Concluiu a avó.
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