Agora Sim… Felizes Para Sempre: Capítulo 4 – Bolo Salgado.

De volta a fábrica a produção dos bolos continua a todo vapor, e as vendas já se iniciaram nas confeitarias, as primeiras impressões já haviam chegado aos ouvidos de Aline e não poderiam ser melhores, o bolo de Whey é um sucesso.

— Graças a Deus, todo mundo está amando a nossa nova receita! — Disse Aline aos advogados Erick e Taisa.

— Aline você é genial! — Elogiou Taisa.

— Um bolo de Whey, é realmente fenomenal! — Concordou Erick (advogado).

            Enquanto isso Pedro está em uma das confeitarias Doce Mel, o rapaz continua com sua busca pelo diário de registros, mas ele não encontra nenhuma pista. No fim do dia quando está indo para casa encontra Vanusa na parada de ônibus.

— Vanusa, oi! Quer uma carona, estou indo para casa! — Disse Pedro.

— Pedro, claro, aceito sim! — Respondeu Vanusa embarcando no carro.

            No caminho para casa eles conversam sobre o dia de trabalho.

— Hoje nem trabalhei direito, acabei saindo mais cedo, tinha que resolver uns assuntos pessoais. — Conta Pedro.

— O meu dia foi mais um daqueles, desde que dona Vitória foi parar no porão, fico em uma correria para limpar a casa e fazer companhia a ela. — Disse Vanusa.

— Como assim, Vitória está no porão? — Questiona Pedro.

— O que? Ah… não… eu quis dizer que… a dona Vitória, ela montou um escritório no porão! É isso ela montou um escritório e fica lá o dia todo, mas ela não gosta de ficar sozinha e por isso eu faço companhia a ela… — Explicou-se Vanusa.

— Que estranho, uma mansão daquele tamanho e ela montou um escritório no porão? — Estranha o rapaz.

— Vanusa, o que está acontecendo naquela casa? — Pergunta Pedro parando o carro.

— Pedro, não estou entendendo o porquê dessa pergunta. — Responde Vanusa.

— Por favor Vanusa, desde hoje cedo você está deixando escapar, me conte, o que está acontecendo! — Insiste Pedro.

— Eu… Pedro, não posso… — Disse Vanusa.

— Porque não pode? O que Felipe fez com Vitória? — Continua a insistir o rapaz.

— Meu Deus! Pedro, eu vou te contar, mas você precisa me prometer que não vai contar a ninguém, se o seu Felipe descobrir que deixei escapar ele me mata! — Implorou Vanusa.

— Tudo bem, agora me conte logo! — Concorda Pedro.

— O seu Felipe está mantendo a dona Vitória em cativeiro! — Revelou a empregada.

— O que?! — Questiona Pedro incrédulo com a revelação.

— Vanusa, isso é loucura! — Declarou o rapaz.

— Eu sei, mas não posso fazer nada, ele me ameaçou, Pedro, não posso denuncia-lo, se fizer isso ele me mata! — Disse Vanusa chorando.

— E no mais, ele não está fazendo mal a ela, a dona Vitória tem do bom e do melhor, a única coisa que ela não tem mais direito é a liberdade… — Continuou Vanusa.

— Vanusa, a gente não pode deixar isso assim, quanto tempo isso já dura? — Pergunta Pedro.

— Já faz dois meses. — Responde Vanusa.

— Meu Deus, a gente precisa fazer alguma coisa! — Disse Pedro.

— Não! Pelo amor de Deus Pedro! Eu te imploro, se Felipe descobre… — Dizia Vanusa desesperada.

— Fique calma, ele não vai descobrir, eu nunca contaria que você me falou isso, vou dar um jeito e Felipe nunca vai descobrir. — Decretou Pedro.

            Em casa Pedro fica inquieto, o rapaz não tira a situação de Vitória da cabeça.

— Eu preciso tira-la de lá! — Pensou Pedro.

            No dia seguinte Aline e Erick levantam cedo e vão para a fábrica, a notícia não poderia ser melhor, todos os bolos de Whey Protein produzidos no dia anterior foram vendidos e o livro de encomendas está lotado de pedidos.

— Que maravilha! Então vamos logo, vamos pôr a mão na massa! — Declarou Aline.

            Na cozinha da fábrica todos trabalham na produção dos bolos incluindo Andressa.

— Andressa, continue a bater essa massa para mim, precisamos mandar para o forno o mais rápido o possível, esse vai ser especial, um cliente muito importante para Aline vem experimentar nosso famoso bolo de Whey Protein! Eu nem consigo acreditar que essa receita fez tanto sucesso com apenas um dia de vendas! — Disse o mestre Micael.

— Claro, pode deixar que termino de bater a massa! — Responde Andressa.

            Micael vai até o escritório de Aline e Andressa fica na cozinha batendo a massa, ela olha para os lados e percebe que todos estão focados em seus afazeres, a moça pega uma colher e experimenta a massa de Micael.

— Isso está delicioso! — Disse Andressa.

            A jovem começa a pensar em uma ligação que recebeu mais cedo.

            Algumas horas antes…

— Alô. — Atende Andressa.

— Andressa! Chegou a hora! Recebi a notícia de que Aline lançou uma nova receita, quero que você estrague essa receita, quero que as vendas dela caiam! Faça com que as pessoas odeiem esse bolo! — Ordenou Felipe.

            De volta a cozinha da fábrica…

 — Meu Deus! — Exclamou Andressa.

            A moça pega um pote de sal e atira na massa de Micael, se ela precisa estragar a receita, ela começará pelo bolo do principal cliente de Aline. Andressa mexe bem a massa para que o sal dissolva e põem para assar.

            Após pôr a massa no forno Andressa segue para as outras bancadas e começa a distrair cada mestre confeiteiro com perguntas bobas, sem eles perceberem ela joga sal em cada uma das massas.

            Na loja de suplementos Pedro pensa em uma alternativa para tirar Vitória do cativeiro.

— Preciso arrumar um jeito de entrar naquela casa sem que Felipe descubra! — Pensa Pedro em voz alta.

— Tá falando sozinho agora Pedro? — Questiona Erick ao ver o amigo cochichar.

— Ah, não só estou pensando alto! — Respondeu Pedro.

            Algumas horas depois as remessas de bolo já haviam sido enviadas paras as confeitarias, Erick também recebe sua remessa na loja de suplementos. Aline está no escritório da fábrica e recebe a notícia de que seu cliente já está a aguardando.

— Ótimo, peça para que ele entre! — Pede Aline a secretária.

            O cliente entra e cumprimenta Aline.

— Aline, como vai? Eu não poderia deixar de vir conferir, que sucesso é esse!? Todos só falam desse bolo de Whey!

— Agenor! Que prazer te receber aqui! Estou tão feliz que já soube da novidade, será a sobremesa mais deliciosa que seu restaurante servirá! — Declarou Aline.

— Micael, traga uma fatia de bolo para Agenor experimentar! — Solicita Aline.

            Na Loja de suplementos Erick resolve servir um dos bolos para seus funcionários experimentarem, todos ficam animados para comer uma fatia do tal bolo de Whey, Erick abre a embalagem e corta a primeira fatia e entrega a Pedro, o rapaz morde a fatia com toda a vontade do mundo e tem uma surpresa.

— Mas… bem… é… — Diz Pedro fazendo uma cara feia.

— O que é? É delicioso, não é? — Questiona Erick.

— É horrível Erick! — Responde Pedro cuspindo o bolo fora.

— O que? Você está maluco! — Pergunta Erick.

— Prova você! — Responde Pedro entregando a fatia a Erick.

— Me dê isso aqui! Ora essa, como você ousa falar do bolo da minha esposa! O bolo é… — Disse Erick comendo um pedaço.

— É HORRIVEL! — Concluiu Erick cuspindo o bolo fora.

— Mas esse, esse não é o mesmo bolo! — Assustou-se Erick.

— Se é ou não, o fato é que esse bolo é horrível! — Declarou Pedro.

            Erick olha para Pedro e dá um tapa em sua cabeça.

— Respeita minha mulher!

— Aii! Desculpa! — Desculpa-se Pedro.

            Na fábrica os telefones não param de tocar, os gerentes das confeitarias ligam para fábrica para saber o que aconteceu, os bolos estavam salgados. Na sala de Aline, Agenor morde uma fatia generosa do bolo de Whey.

— E então? O que você achou? — Questiona Aline a Agenor.

— É… é horroroso! Mas que palhaçada é essa Aline? — Declara Agenor.

— Horroroso? Como assim? Horroroso é você seu velho gaga! É tão velho que já perdeu o paladar, só pode! — Responde Aline irritada.

— Mas o que? Como você… — Dizia Agenor.

— Cale a sua boca! Acha que vai vir até aqui e comer meu bolo de graça e ainda dizer que é horroroso! Mas você está muito louco mesmo! — Declara Aline em fúria.

— Pois coma você essa coisa que chama de bolo! — Disse Agenor atirando a fatia de bolo na mesa de Aline.

— Coisa de bolo?! SUMA DAQUI MATUSALÉM CARIOCA! É TÃO VELHO QUE JÁ ESTÁ VIRANDO PÓ! — Responde Aline já fora de si.

— Eu nunca fui tão humilhado! Considere nossa parceria encerrada! — Declarou Agenor.

— Ótimo, até porque não sou sarcófago para ter parceria com múmia! — Revidou Aline.

— Mas você é doida mesmo! — Declarou Agenor deixando a fábrica.

            Aline senta em sua cadeira em fúria, ela não consegue aceitar o fato de Agenor ter dito todas aquelas coisas horríveis sobre seu bolo, em meio a seus pensamentos ela é interrompida pela secretária.

— Dona Aline, temos um problema! — Informa a secretária.

— O que há? — Questiona Aline.

— A senhora precisa vir até a cozinha. — Responde a secretária

            Na cozinha da fábrica Aline é informada do incidente com os bolos.

— Salgados? Como assim meus bolos estão salgados? — Questiona Aline confusa.

            Nesse instante Erick entra na fábrica para saber o motivo dos bolos enviados a loja de suplementos estarem salgados.

— Aline! O que é que aconteceu aqui? — Pergunta Erick bravo.

— Está gritando porquê? —  Responde Aline irritada.

— Os bolos que foram para loja, estão salgados! — Responde Erick.

— Os da loja também? Mas o que foi que aconteceu! Micael? Vocês não seguiram a receita? — Questionou Aline.

— É claro que segui, eu sempre sigo e experimentei a massa antes de pôr no forno! — Responde Micael.

            Andressa disfarça para que Micael não lembre que deixou a massa nas mãos dela.

— Não estou entendendo, o que aconteceu aqui? — Pergunta Aline sem obter respostas.

            Erick observa Andressa com desconfiança. Durante o dia as encomendas do bolo de Whey foram refeitas, as confeitarias e as lojas de Erick receberam uma nova remessa e tudo havia voltado ao normal, mas no fecha de caixa do fim do dia viu-se a diferença, as pessoas compraram menos que o dia anterior, Aline tinha um novo problema para resolver, como ela faria para reconquistar seus clientes e ainda tinha Agenor, um de seus principais clientes, o que Aline fez com ele era imperdoável, pelo menos é o que ela pensava.

            Em casa Aline prepara o jantar e conversa com Erick que está com o filho no colo.

— Meu amor, relaxa amanhã você liga para esse Agenor e pede desculpas. — Aconselha Erick.

— Mas como Erick? Chamei ele de… — Dizia Aline envergonhada.

— De que? — Questionou Erick.

— Matusalém Carioca. — Concluiu a jovem envergonhada.

— Matusalém Carioca?! HAHAHAHAHA, meu Deus Aline, realmente você pegou pesado! HAHAHA. — Disse Erick em meio aos risos.

— Pare de rir! Estou enfrentando uma crise e você fica rindo de mim! Que tipo de marido você é? — Reclama Aline.

— Desculpa amor, mas que foi engraçado foi! HAHAHA. — Concluiu Erick em meio a gargalhadas.

            Na casa de Pedro ele e a avó Elisa terminam o jantar e se sentam em frente a televisão para assistir a novela preferida dela, Pedro corta duas fatias do bolo de Whey e leva até a sala. Elisa morde a fatia e dá um sorriso.

— Que bolo delicioso! Eu nunca experimentei nada igual! — Disse Elisa.

— Não é?! Aline é realmente espetacular quando se trata de inventar novas receitas! — Concorda Pedro.

            Os dois se dão as mãos de frente para a televisão e ficam em silencio, de repente Elisa olha para o neto e se emociona.

— Pedro? — Disse Elisa.

— O que foi vó? — Questiona Pedro olhando para a avó.

— Eu te amo! — Responde Elisa.

— Eu também te amo dona Elisa! — Responde Pedro beijando a mão da avó.

            Após, eles permanecem ali de mãos dadas assistindo a novela das nove, Pedro e Elisa sentem que algo está para acontecer, mas nenhum dos dois têm coragem para admitir, então eles optam por apenas curtir cada momento juntos, aproveitar cada segundo que ainda lhes resta, o rapaz sabe que aquilo é o que ele quer guardar na memória, uma coisa simples, mas que significa muito. Pedro sabe que um dia sentirá saudades daquele momento, sabe que talvez um dia ele estará ali sozinho, mas lembrará de cada capítulo com ternura pois é o que eles gostam de fazer juntos, assistir a novela das nove.

Agora Sim… Felizes Para Sempre: Capítulo 3 – A Ameaça.

No dia seguinte, Andressa recebe a visita de Diogo no retiro espiritual, desde que entrou no local ela tem pensado sobre suas atitudes com Aline e Erick, a jovem realmente se arrependeu de todo o mal que cometeu, mas se arrepender não basta já que Felipe está disposto a envolve-la em seus planos.

— Diogo, o que você faz aqui? — Questionou Andressa assustada ao vê-lo.

— Eu avisei você na cadeia que ele mandaria novas instruções lembra? — Responde o motoqueiro.

— Pois diga a ele que não vou fazer nada que ele mandar! — Declarou Andressa.

— Andressa, não seja boba, você sabe que não tem escolha! — Rebate Diogo.

— Eu tenho sim escolha, essa é minha vida e quem determina o que vai ser dela sou eu! — Declara Andressa.

— Tudo bem, vai ter que ser do jeito difícil então! — Disse Diogo.

— Jeito difícil? Do que você está falando? — Pergunta Andressa estranhando a fala de Diogo.

— Andressa, esse celular está programado com dois números, se você aceita a proposta do patrão basta discar o número um, se você não aceita, disque o número dois, porém não me responsabilizo por quem está do outro lado da linha caso você clique o número dois. — Ameaça Diogo.

            Andressa olha para o celular sobre a mesa e o pega, a jovem observa o telefone atentamente e começa a pensar no que acontecerá se ela discar o número errado, ela sabe que Felipe não é flor que se cheire, mas também está cansada de insistir em algo que não vê futuro, Erick está casado e nunca se interessaria por ela. Andressa disca o número escolhido.

— Andressa?! Sabia que faria a melhor escolha para você, como você está? — Questiona Felipe ao atender o telefone.

— O que você quer que eu faça dessa vez? — Questiona a moça.

— Quero que você se reaproxime de vez da Aline e do Erick, preciso que você se infiltre na fábrica ou na loja, após conseguir isso te envio novas instruções. — Responde Felipe.

— E se eu não aceitar? — Questiona Andressa.

— Ai você terá o mesmo destino que Nicolau teve, que a enfermeira Jade, enfim, terá o mesmo destino que qualquer um tem quando cruza o meu caminho! — Declarou Felipe em tom de ameaça.

— Então foi você! Você matou todas aquelas pessoas que apareceram no jornal! — Surpreende-se Andressa com a revelação de Felipe.

— Não interessa! Faça o que disse e você fica viva! — Ameaça Felipe desligando o telefone.

            Após o recado do patrão, Diogo deixa o retiro espiritual acompanhado por Andressa, a moça não teve escolha, ela está sendo ameaçada por Felipe.

            Na fábrica os bolos de Whey já estão prontos para serem enviados as confeitarias, Aline solicitou que seis caminhões viessem buscar os bolos para distribuição.

— Seis caminhões de bolo de Whey! Vocês acham que exagerei? — Pergunta Aline a seus advogados.

— Bem, foi um tiro no pé, mas sinceramente, acho que será pouco! — Responde Erick (advogado).

— Esses que estão separados vão para loja do Erick aqui na frente Juvenal! — Informa Aline a um de seus funcionários.

— Vocês fecharam o acordo? — Questiona Taisa.

— Sim! Ele me fornece os vidros de Whey e eu forneço uma remessa de bolos! — Responde Aline.

            No meio da conversa os três são interrompidos pela secretária.

— Dona Aline, a senhora tem visita no escritório, uma moça chamada Andressa solicitou uma reunião. — Informa a secretária.         

            Aline olha para os advogados e avisa a secretária para que informe Andressa de que ela logo sobe ao escritório.

— O que vocês acham que ela quer? — Questiona Aline.

— Não sei! Ela não deveria estar em um retiro espiritual? — Pergunta Erick (advogado).

— De repente ela já está curada… — Responde Taisa.

— Bem, vou subir lá. — Declarou Aline.

            Na sala de Aline, Andressa aguarda ansiosa, enquanto espera ela pensa em como começará a explicar para Aline o motivo de sua visita, será uma missão difícil, mas ela precisa tentar.

— Andressa?! — Disse Aline entrando na sala.

— Oi Aline! — Responde Andressa encabulada.

— Você por aqui? — Questiona Aline.

— Sim! Vou ser direta com você, estou aqui porque preciso recomeçar a minha vida, pensei em ir até a loja de suplementos, mas acredito que Erick ainda tenha magoas de mim, por isso estou aqui diante de você! — Inicia Andressa.

— A alguns meses você me perdoou no batizado de seu filho, então se não parecer abuso… você poderia me dar um emprego? Para que eu recomece Aline… — Conclui a jovem.

— Um emprego? — Surpreende-se Aline.

— É, um emprego! — Afirma Andressa.

— Andressa, sei que te perdoei e não me arrependo disso, eu realmente acho que todos devem ter direito a uma segunda chance, mas te dar um emprego… bem… — Responde Aline um tanto confusa com o pedido de Andressa.

— Aline, eu mudei, esse tempo todo que estive no retiro eles me ajudaram muito a evoluir e você não sabe o quanto me arrependo por tudo que fiz! Mas por favor, sou uma ex-presidiária, quem mais me contrataria? — Implorou Andressa.

            Aline olha para Andressa suplicando um emprego e pensa, ela tem razão, quem contrataria uma mulher com tantos crimes na ficha, bem, a alguns meses Aline a perdoou e Andressa parece sincera quando diz que se arrependeu.

— Tudo bem, acho que a gente pode arrumar alguma coisa para você aqui na cozinha da fábrica, pode ser? — Oferece Aline.

— Claro, pode ser, aceito qualquer coisa! — Responde Andressa.

            Do outro lado da rua Erick está no escritório da loja com o pequeno Lucas em seus braços, o rapaz balança a criança com esperanças de que ele durma logo.

— E ai rapaz? Vai dormir ou não vai? Papai precisa trabalhar! Não posso ficar te balançando o dia todo não! — Disse Erick ao bebê.

            Mas mesmo com o aviso o pequeno Lucas não dá nem sinal de que dormirá, ele observa seu pai com aqueles enormes olhos castanhos arregalados.

— IIIHH Erick, parece que alguém está disposto a ficar acordado o dia todo! HAHAHA. — Responde Pedro ao amigo.

— Pelo visto sim! — Concorda Erick.

— Mas e ai? Como foi a conversa com a Aline ontem? — Questiona Pedro.

— Ah sim, temos um acordo, nós enviaremos uma remessa de suplementos a ela toda semana e ela nos enviará uma remessa de bolos para vendermos na loja! — Revelou Erick.

— Legal, então a partir de hoje posso fazer dois pedidos de remessa do Whey? — Pergunta Pedro.

— Pode! — Confirma Erick.

— E ai filhão? Ajuda o papai! Dorme um pouco! — Implora Erick.

            Por mais que Erick insista, Lucas não o obedece, é como se ele fizesse de propósito.

— Desiste irmão, ele não vai dormir não! HAHAHA. — Disse Pedro rindo da situação de Erick.

            Na fábrica Aline leva Andressa até a cozinha e a apresenta ao mestre confeiteiro Micael, ela o informa sobre a contratação de Andressa, o mestre a coloca como ajudante de cozinha e a informa que ela terá que ajudar a todos que solicitarem no que for preciso.

— Está perfeito para mim! — Declarou a moça.

— Obrigada Aline! — Conclui Andressa abraçando Aline.

— Tá legal! Eu preciso ir… — Disse Aline estranhando o abraço.

            Na loja de suplementos Pedro pede a Erick para sair novamente, ele ainda não desistiu de seu plano para encontrar sua origem, e agora com o diário tudo ficará mais fácil.

— Você não acha que anda saindo demais? — Questiona Erick.

— Ah… é que… bem…. Estou resolvendo uns problemas para a minha avó… — Enrolou Pedro.

— E é grave? — Pergunta Erick.

— Não, não é nada grave, é sobre a aposentadoria dela… — Mentiu Pedro.

            Erick estranha, mas não questiona mais.

— Tudo bem, pode ir, mas tenta resolver tudo hoje, preciso de você aqui na loja! — Responde Erick.

— Obrigada Erick, vou resolver tudo hoje! — Declarou Pedro.

            Na saída da loja Pedro encontra com Aline, ela vem da fábrica com dois bolos na mão.

— Oi Pedro! Tudo bem? — Questiona a moça.

— Oi Aline! Tudo e você? — Responde Pedro.

— Tudo bem, você já está de saída? — Perguntou Aline.

— É, tenho que resolver uns problemas… — Respondeu o rapaz.

—Tudo bem, até mais! — Despediu-se Aline.

            No escritório de Erick, Aline encontra o marido em sua mesa cheio de trabalho, enquanto isso o pequeno Lucas está no bebê conforto de olhos bem abertos.

— Oláaaa, como estão os amores da minha vida? — Cumprimenta Aline.

— Ah, olha quem chegou, se não é a mamãe mais linda desse mundo! — Responde Erick.

— Não tente me agradar, não voltarei atrás no acordo das fraldas! — Disse Aline.

— Tudo bem, não vou mais tentar me livrar! — Responde Erick sorrindo.

— Mas vem cá, como faz para ele dormir? — Questiona Erick.

— Como assim? Erick ele dorme a noite, durante o dia ele fica assim com esses olhões lindos bem arregalados! — Responde Aline beijando o filho.

— Meu Deus, esse bebê não é normal! — Disse Erick.

— É a nossa mistura, só poderia sair assim mesmo! — Responde Aline.

— Mas vim aqui por outro motivo! Os bolos já estão sendo distribuídos nas confeitarias, e a sua remessa também já está a caminho! Sabe amor, não vejo a hora de descobrir a reação das pessoas, será que vão gostar? — Questiona Aline assustada.

— As pessoas não vão gostar, elas vão amar! — Decretou Erick.

            Aline sorri ao marido grata pelo apoio que ele está lhe dando.

— Erick, tem mais uma coisa que preciso te contar… — Inicia Aline.

— O que é? — Questiona Erick.

— A Andressa, ela apareceu lá na fábrica! — Revela Aline.

— A Andressa? E o que ela queria? — Pergunta o rapaz.

— Ela me pediu um emprego Erick. — Responde Aline.

— Um emprego? Na fábrica? — Questiona Erick.

— É! — Responde Aline.

— E o que você disse a ela? — Insiste Erick.

— Eu a contratei como ajudante de cozinha! — Revela Aline.

— O que? Aline, você está maluca? Depois de tudo que ela fez? Como você pode? — Fala Erick indignado.

— Erick, ela mudou, eu sinto nela, as pessoas precisam de uma segunda chance! — Justificou-se Aline.

— Mudou? Tá bom! Não sei como você acredita! — Respondeu Erick.

— Amor, por favor não fica bravo comigo… — Disse Aline abraçando o marido.

— Eu… olha Aline, não gosto dessa mulher perto da gente, não me sinto bem! — Revela Erick.

— E se ela tentar nos prejudicar de novo? — Continua o rapaz.

— Ai, não vai ter perdão! — Conclui Aline.

Não, foi por mau!

Autor: Fábio Anhaia.

Não foi por mal! Dizia ele enquanto a levantava do chão.

Não foi por mal! Repetia ele outra vez enquanto ela tapava com base os roxos de seus braços.

Não foi por mal! Declarava ele enquanto ela prendia o cabelo para que ninguém percebesse as falhas em sua cabeça.

Não foi por mal! Insistia ele enquanto ela limpava a boca ensanguentada.

Não foi por mal! Continuou ele enquanto seguiam caminho ao hospital.

Não foi por mal! Dizia ele enquanto empurrava a cadeira de rodas em que ela estava.

Até quando ela terá que aguentar, até quando terá que escutar a mesma frase, a mesma desculpa.

Em uma tarde na delegacia, ela conta toda a história ao delegado, as mesmas frases, os mesmos acontecimentos, mas dessa vez na ordem certa.

Ela levantava do chão pedindo uma explicação, então o questiona se foi sem querer e ele responde: Não, foi por mau!

Ela tapava os roxos de seus braços e o questionava se foi sem querer e ele repetia: Não, foi por mau!

Ela tapava as falhas do cabelo o questionando se foi sem querer e ele declarava: Não, foi por mau!

Ela limpava a boca ensanguentada o questionando se foi sem querer e ele insistia: Não, foi por mau!

Eles seguiam para o hospital e ela questionava se foi sem querer e ele continuava a afirmar: Não, foi por mau!

Ela questionava em uma cadeira de roda se foi sem querer e ele declarou: Não, foi por mau!

Não confunda as frases, quando estiver sofrendo abuso lembre-se que não foi sem querer, foi por mau!

Para Todas as Mulheres

Autor: Fábio Anhaia

Para todas as que trabalham dia e noite,

Para todas as que cuidam dos lares,

Para as que são mães, e as que são pais,

Para as que são avós e bisavós.

Para as que são professoras,

Para as que são domésticas,

Para as que são empresárias

E para as que são funcionárias

Para as que são loiras,

Para as que são morenas,

Para as que as que estão aqui

 E para as que já partiram.

Para todas as que nasceram mulher,

Para as que que se identificam mulher,

Para as que são únicas,

Para todas as mulheres.

Que não só nesse dia,

Sejam reconhecidas,

Sejam respeitadas

E sejam amadas.

Porque sem elas não viveríamos,

Sem elas não existiríamos.

Porque sem elas não há vida

Sem elas, não há nada.

Feliz dia,

Feliz vida,

Que seja sempre para elas,

Para todas as mulheres.

Agora Sim… Felizes Para Sempre: Capítulo 2 – O Acordo.

— Erick, meu bem, meu amorzinho, luz da minha vida… — Iniciou Aline.

— Anda Aline, desembucha. — Rebateu Erick.

— Bem eu… ah Erick, não tive escolha, recebi uma carga de suplementos que deveria ter sido entregue na loja hoje cedo, mas é que precisava iniciar a produção o quanto antes! — Revelou Aline.

— Ah claro! E ai você desfalca as minhas lojas Aline, os estoques são contados semanalmente, não tenho suplementos de sobra não Aline, você deveria ter falado comigo, nunca te deixaria na mão, mas também não poderia desfalcar meu estoque! — Revidou Erick.

— Meu amor, eu… — Dizia Aline.

— Não! Não tente se justificar, só me prometa que não fará novamente! — Pediu Erick.

— Bem, não é assim também! Nós somos casados! — Rebateu Aline.

— Mas isso não te dá o direito de invadir minhas lojas e sair pegando tudo não, ou se for assim, também tenho o direito de invadir a fábrica, as confeitarias… — Afirmou Erick.

— Tudo bem, entendi, não farei mais isso, mas nós precisamos de um acordo. — Propôs Aline.

— É precisamos! — Concordou Erick.

            No portão da casa de Felipe inicia-se uma pequena discussão, o jovem empresário não gostou nem um pouco da presença de Pedro em sua casa.

— Anda, responda! O que faz aqui? — Insiste Felipe.

— Só estou dando uma carona para uma amiga, e bom dia para você também Felipe. — Responde Pedro.

— Ah, uma carona! Vanusa, entre logo! — Ordena Felipe.

— Até mais Pedro, obrigada pela carona. — Agradece Vanusa.

— Disponha! — Responde Pedro.

— E quanto a você Felipe, como está? E Vitória? — Pergunta Pedro com a melhor das intenções.

— Os assuntos referente a mim e minha irmã só dizem respeito a nós, agora se você puder tirar esse entulho de mil novecentos e vinte do meu portão, agradeço. — Responde Felipe em tom arrogante.

            Pedro embarca no carro e vai para loja de suplementos, Felipe também segue seu caminho para o escritório. Presa no porão Vitória recebe a visita de Vanusa.

— Bom dia dona Vitória! — Cumprimenta Vanusa.

— Bom dia Vanusa, tudo bem? — Questiona Vitória.

— Tudo, eu… dona Vitória, como a senhora aguenta ficar presa aqui? — Pergunta Vanusa.

— Ah Vanusa, acho que aceitei meu destino, no começo foi mais difícil, agora já nem me importo mais. — Responde Vitória.

— E a sua presença também me conforta, acho que sozinha não conseguiria! — Completou a jovem.

— Mas porque a pergunta? — Questiona Vitória.

— Nada não, só acho que se estivesse em seu lugar, não conseguiria. — Responde a empregada pensativa.

— Mas ainda mantenho viva a esperança Vanusa, bem lá no fundo, mas mantenho! — Revelou Vitória.

— Tenho tanta pena da senhora, mas ao mesmo tempo tanto medo do que seu Felipe pode fazer… — Disse Vanusa.

— Eu entendo, mas se você me ajudasse, Vanusa… — Dizia Vitória até ser interrompida por Vanusa assustada.

— Não! Não posso, ele vai me matar se eu contar! — Declara a empregada.

— Eu sei, mas nós podemos colocar ele na cadeia Vanusa, você só… — Tenta concluir Vitória.

— Não! Me desculpe dona Vitória, mas não dá! — Afirma Vanusa deixando Vitória visivelmente constrangida.

            Na loja de suplementos Rafael cumprimenta Pedro que chega atrasado para o trabalho.

— Apareceu a margarida! — Disse Rafael.

— Fala rapaziada, acabei me atrasando, mas já estou aqui! Onde está o Erick? Já chegou? — Questiona Pedro.

— Já, ele abriu a loja e foi até a fábrica. — Responde Rafael.

— E a carga da manhã? Já chegou? — Pergunta Pedro.

— Não, ainda não recebemos nada. — Responde outro funcionário da loja.

— Que estranho! — Conclui Pedro.

            Erick chega na loja e encontra Pedro no escritório em uma ligação com o fornecedor da entrega da manhã.

— Como assim já foi entregue? Não! Estou aqui na loja, já confirmei com meu pessoal, não chegou nada ainda! — Disse Pedro ao fornecedor.

            Erick faz sinal para que Pedro se desculpe com o fornecedor e desligue o telefone.

— Olha, acho que encontrei a mercadoria, me desculpe o incomodo e obrigada por enquanto! — Disse Pedro desligando o telefone.

— Bom dia Erick! — Cumprimentou Pedro.

— Bom dia! Atrasou em? — Responde Erick.

— É, acabei dando carona a uma vizinha e me atrasei um pouco, foi mal. — Responde Pedro.

— Não tem problema! Você tem créditos! — Afirma Erick.

— Mas e quanto a carga de Whey? Não recebemos nada! — Pergunta Pedro.

— Recebemos sim, a Aline, ela inventou uma receita nova de bolo de Whey, ela recebeu a carga e mandou entregar tudo na fábrica! — Revelou Erick.

— Meu Deus, mas Erick e as lojas, nós estamos ficando sem estoque! — Assustasse Pedro.

— Eu sei, faça um pedido urgente e solicite que seja entregue o quanto antes, a noite vou conversar com a Aline, vamos fazer um acordo! — Decretou Erick.

            Pedro liga para o fornecedor novamente e solicita uma remessa de Whey para entrega imediata.

            No escritório de Felipe, o rapaz chega cheio de ódio, ele não sabe como explicar, mas cada vez que vê Pedro um sentimento muito ruim invade seu coração, Felipe nunca aceitou o fato de Pedro ter o abandonado ainda na infância, o rapaz o considerava seu melhor amigo.

— Ainda vou me vingar de você, e para começar, preciso me reaproximar de Erick, e já sei como vou fazer isso. — Declarou Felipe.

            Felipe liga para Diogo, o motoqueiro misterioso, o rapaz dá as ordens e é bem claro. Felipe manda que Diogo encontre Andressa, seu plano de vingança irá iniciar muito em breve.

            Na loja de suplementos Erick pede para que Pedro vá ao banco depositar o caixa da semana, o rapaz prontamente obedece, afinal essa é mais uma chance de Pedro passar em outro hospital para procurar pistas de seu passado.

            Após sair do banco, Pedro passa no antigo hospital que sua avó Elisa trabalhou, no local ele invade uma sala de arquivos sem ser notado pelos funcionários. Em uma prateleira Pedro percebe um diário com os registros de nascimentos e óbitos da década de noventa, sem pensar duas vezes o rapaz põem o livro na mochila e sai da sala de arquivos, mas ao sair dá de cara com um enfermeiro.

— Quem é você? E o que fazia ai dentro? — Questiona o enfermeiro.

— Desculpe, estava procurando o banheiro, mas obviamente não é aqui! — Declarou Pedro.

— Não, o banheiro fica naquele corredor a esquerda! — Indicou o enfermeiro.

— Muito obrigado! — Agradece Pedro indo em direção aos banheiros.

            Na sala o enfermeiro começa a procurar o diário de nascimentos e óbitos, após um tempo procurando ele faz uma ligação.

— Alô, Diogo? Não localizei o diário, acredito que tenha se perdido com os anos, muita coisa foi computada e os diários foram jogados fora. — Revelou o enfermeiro.

— Tudo bem, vou informar o senhor Felipe. — Responde Diogo.

            De volta a loja de suplementos Pedro sobe ao escritório e percebe que a sala está vazia. O rapaz tira o diário da mochila e inicia uma pesquisa pelo seu nome. No meio da busca ele é interrompido pela presença de Erick.

— Pedro? Já voltou? Conseguiu depositar? — Questiona Erick.

— Sim, aqui está! — Respondeu Pedro entregando o comprovante.

— Está tudo bem? Atrapalhei alguma coisa? — Pergunta Erick percebendo que Pedro está guardando algo na mochila.

— Não, está tudo bem, é coisa minha, mas eu continuo a noite quando chegar em casa! — Responde Pedro.

            No fim do dia, todos voltam para suas casas, Aline e Erick estão no apartamento, a moça põe o filho para dormir enquanto Erick prepara o jantar e degusta uma taça de vinho.

— Então, o cheiro está delicioso, quero saber se o gosto também estará! — Disse Aline abraçando o marido pelas costas.

— Ai de você se reclamar, eu aqui dando o meu melhor e você se desfazendo da minha comida! — Revidou Erick virando-se e beijando a esposa.

— Mas agora nós precisamos conversar! — Declara o rapaz.

— Conversar? Sobre o que meu bem? — Responde Aline fazendo-se de desentendida.

— Aline, não seja boba, você sabe muito bem! — Afirma Erick.

— Tá legal! Vamos ao nosso acordo! — Confirma a moça.

— Estive pensando a tarde toda e conversei com Taisa e Erick (advogado) e nós pensamos o seguinte. — Iniciou Aline.

— Você me fornece os vidros de Whey Protein e eu forneço os bolos para venda em suas lojas! — Propôs Aline.

— Bem, parece uma proposta justa, esse bolo será um sucesso e vai vender igual água! Tudo bem, eu topo! — Aceita Erick estendendo a mão a esposa.

— Não! Agora a gente sela nossos acordos com um beijo! — Responde Aline beijando o marido.

— Opa, então acho melhor a gente efetuar novos acordos! Muitos acordos! Centenas de acordos! — Responde Erick enchendo a esposa de beijos.

— O primeiro é quem lava a louça, e adivinha, eu fiz o jantar, logo, é você quem lava! — Afirma Erick beijando Aline mais uma vez.

— Ok, em contrapartida você troca o Lucas por uma semana! — Revidou Aline beijando o marido outra vez.

— Eiiii, isso não é justo, eu não tinha concordado, porque me beijou? Isso é trapaça! — Reclama Erick.

— Trapaça ou não nosso acordo foi selado! — Conclui Aline sorrindo para o marido.

            E assim Aline e Erick finalmente têm um acordo, após o equívoco de Aline ao receber a carga de Erick e quase desfalcar as lojas de suplementos, os dois chegaram a um acordo justo, o que resta agora é saber se a receita de bolo de Whey que a moça inventou venderá tanto quanto eles preveem, mas Aline não tem dúvidas, seu bolo será um sucesso da confeitaria!

Agora Sim… Felizes Para Sempre: Capítulo 1 – O Bolo de Whey.

            Aline termina de amamentar o filho e o põem no carrinho de bebê, a moça vai até a cozinha e veste o avental, havia chegado o momento e ela não deixaria aquela ideia fugir de sua mente.  Aline começa a preparar uma nova receita, ela coloca os ingredientes na vasilha e como último e tão importante a moça coloca uma porção de Whey Protein, após misturar bem ela leva a massa ao forno para assar.

            Do outro lado da cidade Pedro chega em casa e cumprimenta a avó e uma vizinha que não vê a dias, Vanusa, a mulher trabalha de doméstica na casa do jovem empresário Felipe. Pedro entra em casa e toma um banho, Elisa despede-se de Vanusa e entra em casa para preparar o jantar, após o banho Pedro dirige-se até a cozinha.

— Como foi o dia meu neto? — Questionou Elisa.

— A mesma coisa de sempre vó, muitas vendas, dia corrido e produtivo. — Respondeu Pedro.

— Que bom meu bem, você não sabe como sou feliz por você estar bem, o Erick foi um anjo na sua vida! — Disse Elisa.

— É, foi mesmo. — Concordou Pedro.

— Desde que sai do supermercado, minha vida só evoluiu… — Concluiu Pedro.

— É, mas vamos esquecer esse assunto! — Declarou Elisa deixando Pedro desconfiado.

            Na casa de Aline e Erick, o rapaz chega do trabalho, beija o filho no carrinho de bebê e vai de encontro a esposa na cozinha.

— Oi amor, que cheirinho bom é esse. — Questionou Erick.

— É uma receita nova, come um pedaço! — Diz Aline enfiando uma enorme fatia de bolo na boca do marido.

— Esper…ughughug… — Dizia Erick antes de ter aquela enorme fatia de bolo na sua boca.

— Deixe de falar bobagem e me diga, o que você achou? — Questionou Aline.

— Hummm, mas é delicioso! O que você pôs aqui? — Perguntou Erick encantado com o delicioso sabor da nova receita.

— Mesmo? Ah meu amor, que bom que gostou, porque o público alvo que pretendo atingir é como você! — Declarou Aline animada.

— A é? Então me diz logo, o que você pôs aqui? — Insistiu Erick.

— É um bolo de Whey Protein! — Revelou Aline.

— Whey Protein? — Disse Erick surpreso.

— Sim! Whey Protein! — Respondeu Aline.

— Whey? — Insiste Erick.

— É, Whey! — Confirma Aline novamente começando a ficar irritada.

— Protein? — Pergunta Erick.

— Se você não parar, juro que atiro essa forma na sua cabeça Erick, meu bem. — Respondeu Aline em fúria.

— Ok, parei, sabe adoro o jeito que você é brava e um docinho ao mesmo tempo! Começa com uma ameaça e termina em um “meu bem”. — Disse Erick.

            Aline olha para o marido com um olhar apaixonado. Ela pensa que ele pode sim ser um brutamontes, e as vezes, ou melhor, quase o tempo todo, a irrita demais, mas mesmo assim, ver aquele sorriso em sua frente todo o fim de tarde é o seu maior presente.

— Mas e ai? O que você acha da receita? Você acredita que vai vender? — Questiona Aline ao marido.

— Você está brincando? Amor vai vender e muito! Você é fenomenal! — Responde Erick animado e orgulhoso.

            Erick pega a esposa pela cintura e a beija, após terminar o bolo, os dois jantam e se preparam para dormir, Aline não vê a hora de amanhecer para que ela leve a receita a fábrica, a moça está ansiosa para começar a produção da nova receita.

            No dia seguinte Erick acorda e já encontra Aline de pé na sala com o filho, prontos para passar o dia na fábrica.

— Para onde vocês vão? — Questiona Erick.

— Para fábrica, vou levar a receita nova para que iniciem a produção o quanto antes! — Responde Aline.

— Aline, você não acha que está muito ansiosa, os funcionários nem chegaram na fábrica ainda, são sete horas da manhã! — Pontua Erick.

— Eu sei, só que… — Dizia Aline até ser interrompida pelo marido.

— Vamos fazer o seguinte, vou me vestir, a gente toma café e deixo você e Lucas na fábrica, pode ser? — Propôs Erick.

— Tudo bem, pode ser assim, você tem razão. — Responde Aline beijando o marido.

            Do outro lado da cidade Pedro toma o café e parece ansioso também, mas por um motivo muito diferente de Aline. Pedro pensa em qual desculpa dará a Erick para poder seguir com seu plano de encontrar sua origem.

— O que foi meu filho? — Questionou Elisa ao neto.

— Nada não vó! Preciso ir, tenho que chegar cedo para abrir a loja. — Responde Pedro.

            Pedro beija a avó e sai para o trabalho, no portão de casa ele encontra Vanusa que também se prepara para sair.

— Bom dia Vanusa! — Cumprimenta Pedro.

— Bom dia Pedro, tudo bem? — Responde Vanusa.

— Está indo para o trabalho? — Questiona Pedro.

— Sim, estou indo para o ponto de ônibus. — Responde Vanusa.

— Que isso, te dou uma carona, você ainda trabalha na mansão de Felipe? — Perguntou Pedro.

— Sim. — Confirma Vanusa.

— É meu caminho, vem te levo. — Convida Pedro.

            Vanusa aceita a carona e vai com Pedro, no carro eles conversam sobre os dias que ficaram sem se ver, Pedro questiona como anda a família da doméstica e Vanusa responde a todas as perguntas do rapaz.

— E quanto a Felipe? — Questiona Pedro.

— O senhor Felipe passa o dia no escritório, ele não fica muito em casa, eu passo o dia com a senhorita Vitó… — Dizia Vanusa, mas por algum motivo ela para e muda de assunto.

— Mas e a sua avó, ela esteve doente não é mesmo? — Tenta desconversar Vanusa.

            Pedro estranha a mudança repentina de conversa, mas não insiste.

— Sim, minha avó estava meio doente, a levei ao médico e ela fez diversos exames, mas todos deram muito bem, minha avó diz que vai durar enquanto puder e não entendo o que quer dizer, mas não gosto de pensar nisso. — Declara Pedro.

— Entendo! — Concorda Vanusa.

            No restante do caminho Pedro pensa no que Vanusa dizia, por que ela não concluiu sua fala sobre Vitória, o rapaz conhece toda a família de Felipe, qual motivo dela não concluir. Pedro pensa e chega a conclusão de que algo de estranho se passa na casa de Felipe.

            Na fábrica, Taisa e Erick (advogado) recebem a visita mais fofa do dia, Aline chega com o pequeno Lucas em um bebê conforto.

— Bom dia! — Cumprimenta Aline.

— Bom dia! — Respondem Taisa e Erick (advogado) simultaneamente.

— Olha quem está aqui, o bebê mais lindo desse mundo, a dinda estava morrendo de saudades! — Disse Taisa beijando Lucas.

— É, e o dindo aqui também viu! — Falou Erick (advogado).

— Bem, vamos subir, tenho que mostrar uma coisa a vocês, aliais, vocês vão amar! — Declara Aline.

            Do outro lado da rua Erick abre a loja de suplementos.

— Bom dia rapaziada! — Disse Erick a seus funcionários.

— Bom dia! — Respondem os funcionários.

— E o Pedro? Não chegou ainda? — Questiona Erick.

— Ainda não, deve ter se atrasado. — Responde Rafael um dos funcionários.

— Estranho, ele nunca se atrasa! — Afirma Erick estranhando o atraso de Pedro.

            Não muito longe dali Pedro deixa Vanusa na casa de Felipe, o rapaz desce para abrir a porta para a doméstica, o carro do rapaz é velho e a porta do passageiro só abre por fora. Enquanto Vanusa desce do carro o portão se abre e um carro de luxo para em frente ao carro de Pedro. Felipe desce do carro e dá de cara com Pedro.

— O que você faz aqui? — Questiona Felipe visivelmente irritado com o encontro.

            Na fábrica Aline apresenta a receita do bolo de Whey Protein a Erick (advogado) e Taisa que adoram a ideia.

— Precisamos apresentar a receita aos chefes confeiteiros agora mesmo, tenho certeza de que será um sucesso! — Declara Erick (advogado) animado.

            Aline, Taisa e Erick (advogado) levam a receita até a cozinha, os três anunciam que a produção começaria hoje mesmo e os bolos devem ser entregues a todas as confeitarias da cidade até o final do dia, no fim do anúncio Aline faz um pedido especial.

— Micael? Preciso que prepare uma remeça extra, vamos vender esse bolo na loja de suplementos do meu marido, por enquanto só nessa aqui da frente, amanhã aviso se vamos expandir as vendas para as outras lojas. — Pede Aline ao chefe confeiteiro da fábrica.

            A produção do bolo inicia-se imediatamente, Aline supervisiona tudo de perto, a receita tem que sair perfeita. Aline está amamentando o filho quando recebe a visita do marido na fábrica.

— Erick, que bom que você apareceu, preciso falar com você meu amor! — Disse a jovem recebendo um beijo do marido.

            Erick beija a testa do pequeno Lucas e olha para a esposa com ternura.

— Você sabe que te amo, amo mais que tudo nessa vida, Aline você e Lucas são as melhores coisas que já aconteceram comigo! — Declarou-se Erick.

— Eu também meu amor! Te amo. — Respondeu Aline beijando o marido ali mesmo em meio a fábrica em pleno funcionamento.

— A produção está a todo vapor! — Questiona Erick.

— Ah, sim e era sobre isso que queria falar com você. — Responde Aline.

— Estive pensando e o que você acha de vendermos o bolo nas suas lojas? — Pergunta a jovem.

— Nas minhas lojas? Seria incrível! — Responde Erick animado com a ideia.

— Ótimo, as vendas vão iniciar amanhã, nas confeitarias e na sua loja aqui em frente, após a produção estar estabilizada, vou pedir para que Micael produza para as outras lojas! — Afirma Aline.

            Os dois se beijam e observam a produção do bolo de Whey Protein. Enquanto observa a quantidade imensa de Whey nas bancadas da fábrica Erick começa a pensar.

— Aline? — Questiona Erick.

— O que? — Responde Aline.

— De onde veio tanto Whey? — Pergunta Erick.

            Aline olha para o marido e ri, com um sorrisinho amarelo a moça procura palavras para contar a Erick, mas como ela fará isso, como Aline revelará que mais cedo recebeu uma carga de Whey Protein que deveria ter sido entregue a loja de Erick, ela não sabe, mas terá que revelar logo pois percebeu que ele já desconfia da resposta.

Felicidade

Autor: Fábio Anhaia.

Quero amar sem medo

Amar sem limites

Quero beijar com amor

E esquecer os problemas que existem

Quero andar de mãos dadas

Abraçar na calçada

Quero sorrir ao teu lado

E sentir que estou sendo amado

Quero esquecer meus problemas

E aguardar o momento que todos me contam

Quero sentir o cheiro das flores

E sorrir a todo instante

Quero andar sem rumo

Ao lado de alguém que deseje o mesmo

Quero ser feliz

Porque todos temos o direito

Direito de amar

Direito de ser amado

Direito de encontrar

Encontrar a felicidade.

A Última Existência: Texto IV – O Último Homem da Terra  

Autor: Desconhecido – texto retirado da internet.

Acostumado a acordar todos os dias com um turbilhão de buzinas, vozes e motores esfaqueando seus ouvidos, neste dia, acordou incomodado com o silêncio, um torpor imediato. A estranheza levando-o a examinar ao redor, aquela sensação de “em que buraco me enfiei, afinal? ” Mas não estava em nenhum lugar estranho, estranho lugar, lugar nenhum. Era o mesmo quarto fétido de vinte e poucas primaveras, a mesma bagunça, o mesmo cheiro ácido impregnando as paredes mofadas. 

Inevitável, saltou da cama e foi até a janela, do lado de fora do apartamento, reinava o vazio. Silêncio absoluto. Era feriado? Devia ser, droga, mas nem domingos e nem feriados costumavam ser absurdamente quietos assim. Havia sempre malucos correndo com seus fones de ouvido, carros passeando sem uma direção definida, bêbados cambaleantes tentando achar o caminho de volta para casa. E estaria realmente em casa? 

O Último homem do planeta Terra…  

Ligou o rádio, odiava locutores com bom humor, as manhãs foram criadas para serem mal-humoradas. Mas neste dia, permitiria torturar-se com o “Boooooom Diiiiiia” irritante vindo junto com as ondas de rádio, precisava descobrir o que estava acontecendo. 

E que infernos estava acontecendo? A pergunta que lhe invadiu a cabeça quando, do rádio, só vieram chiados, mudou de estação e nada. FM, nada, AM e nada novamente: “- Porcaria de chiado, Hertz e mega-hertz dos infernos. ” Deu um tapa no rádio, teria preferido o monótono “bom dia” de uma voz grave qualquer. 

Raiva deixava-o com fome, resolução: encher a barriga. Pão seco, leite azedo, desistiu era melhor tapear a fome com uma lata de cerveja, comeria qualquer porcaria no caminho para a faculdade. 

Quando seus pés chegaram à rua, percebeu a intensidade da estranheza, não havia uma pessoa sequer em lugar algum, nem caminhando, nem rastejando. Entrave para a normalidade, suave fatalidade, seria um sonho? Evidentemente que não, era o caos, tão somente isso, ou mais do que isso! Como saber? Melhor caminhar. 

E caminhou, diante dos seus olhos epítome da estranheza, carros batidos, recém-batidos, era o que parecia. Alguns ainda fumegavam, começou a ver pequenos incêndios. 

A pior parte foram os objetos pessoais dos transeuntes. Objetos, bolsas, pastas, roupas – tudo espalhado pelo chão. Como se tivessem evaporado de uma hora para outra, seres distraídos em suas vidas ocupadamente desocupadas, de repente, são fulminados por uma explosão laser colossal.  

Todos desaparecem, todos, exceto um estudante de filosofia, filosofia barata que não lhe permitia entender nem a milésima parte do que estava acontecendo. 

Último habitante do planeta Terra? Por que ele sobrevivera? Por que ainda estava ali? Será que seu apartamento possuía alguma proteção, algum dispositivo anti raio laser universal fulminador de inteira humanidade? Os animais deviam ter este dispositivo também. Foi o que concluiu ao ver cães e gatos, pássaros e ratos em seus passeios despreocupados, deliciando-se com os alimentos que sobraram, caídos intactos das mãos dos seres humanos antes que tivessem tempo de levá-los a boca. Estava só, o último homem do planeta! Ou melhor, o último moribundo do planeta. 

No dia seguinte, a energia acabou, já esperava por isso, não havia qualquer pessoa operando qualquer porcaria em qualquer lugar do planeta, nenhum qualquer em nada qualquer. Teve sorte em não ser esmagado por um avião desgovernado que poderia estar sobrevoando sua cabeça quando o piloto e copiloto evaporaram. Sorte?

Teria sido a melhor coisa a lhe acontecer, e por não ter acontecido, tremeu na escuridão, envolvido pelo denso anoitecer. 

20 anos depois…  

A vegetação dominava as ruas, prédios e casas tomados por trepadeiras, o musgo servindo de tapete fértil para a proliferação de plantas sobre ruas e calçadas, concreto arrebentado, carros enferrujados e um bando de animais tomando a cidade, lobos e cobras, ursos e gatos selvagens reinavam na selva de pedra. 

E no meio do verde, outrora cinza, caminhava um encurvado estudante de filosofia, a barba crescida chegava ao peito, as roupas deterioradas pelo tempo se soltavam do seu corpo flácido, caminhava lentamente, pés descalços rastejantes. Sussurrava alguma coisa: “- Abram caminho!!! Curvem-se diante do rei. ”  

Quase inaudível, quase elástico, as cobras e os lobos abriam espaço, ursos e gatos pareciam até se curvar, e o homem passava, em sua mão apenas a réplica de um cetro enferrujado. 

Especialistas da extinta humanidade jamais seriam capazes de prever algo assim, mas tornou-se realidade: “Estudante de filosofia torna-se rei do planeta Terra. ”  

Lendas Urbanas: A Loira do Banheiro

Fonte: Wikipédia

A Loira do Banheiro seria uma lenda brasileira que teria sido originada em Guaratinguetá, SP, a partir da história real de Maria Augusta de Oliveira Borges. Após um casamento arranjado pela família, aos 14 anos, com o conselheiro Dutra Rodrigues, um homem muito mais velho, tornou-se infeliz e acabou por separar-se apenas 4 anos depois. Vendeu suas joias e fugiu para Paris, onde acabou por falecer em 1891, aos 26 anos. Seu atestado de óbito desapareceu, tendo a causa mortis se tornado um mistério. Acredita-se que teria morrido de raiva, doença que na época era comum na Europa e que causa desidratação nas vítimas. O corpo da jovem, após voltar ao Brasil, foi mantido em uma urna de vidro no casarão da família para visitação pública, enquanto o túmulo era preparado. Amélia Augusta Cazal, mãe de Maria, arrependida, não queria enterrar sua filha, mesmo com a sepultura pronta, até começar a ter diversas visões da filha pedindo o enterro. Devido a isso, sua mãe finalmente decidiu pelo sepultamento.

Em 1902, dez anos após seu enterro, a casa onde viveu deu lugar à Escola Estadual Conselheiro Rodrigues Alves. A partir de algum tempo, surgiram boatos de que o espírito de Maria Augusta vagava pela escola, especialmente pelos banheiros, abrindo torneiras para saciar sua sede, e pedindo enterro. A história ganhou força quando um incêndio misterioso atingiu parte do prédio em 1916.

Após este fato, a história da Loira do Banheiro espalhou-se e passou a fazer parte do imaginário adolescente em muitos colégios brasileiros, numa espécie de fusão com a lenda norte-americana: muitas das características da Blood Mary passaram a ser associadas à Loira do Banheiro. O suposto espírito passou a ser descrito como o fantasma de uma jovem loira de vestes brancas, com pedaços de algodão na boca, ouvidos e nariz. Este espírito surgiria depois de um ritual de invocação, que varia de acordo com o colégio. As possíveis etapas incluem chamá-lo três vezes em frente ao espelho, bater a porta do banheiro, falar palavrões, chutar o vaso sanitário e puxar a descarga, por vezes com a combinação de dois ou mais desses rituais, ou até mesmo todos eles.

Os Irmãos Grimm

Fonte: Wikipédia

Jacob Ludwig Carl Grimm, nascido em 4 de janeiro de 1785, era 13 meses mais velho que seu irmão Wilhelm Carl Grimm, que nasceu em 24 de fevereiro de 1786. Ambos nasceram na cidade de Hanau, no Grão-ducado de Hesse, atual estado de Hesse, Alemanha, filhos de Philipp Grimm, um jurista, e Dorothea Zimmer Grimm, filha de um vereador de Kassel. Jacob e Wilhelm, eram, respectivamente, o segundo e o terceiro dos nove filhos do casal, dos quais três não sobreviveram ao primeiro ano de vida. A família se mudou para o vilarejo de Steinau an der Straße, também no Grão-Ducado de Hesse (atual Steinau, estado de Hesse, Alemanha) em 1791, onde Philipp foi contratado como um magistrado do distrito. Residindo em uma grande casa, a família era membro proeminente da comunidade local. O biógrafo Jack Zipes escreve que os irmãos estavam felizes e “claramente gostavam da vida no campo”. As crianças foram alfabetizadas primeiro em casa por professores particulares e receberam instruções rigorosas como cristãos reformados (calvinistas) que incutiu em ambos uma fé religiosa ao longo da vida. Mais tarde frequentaram as escolas locais.

A morte inesperada de Philipp em 1796, vítima de pneumonia, trouxe graves dificuldades financeiras para a família. Forçada a dispensar os empregados que possuía em sua casa, Dorothea, a partir de então viúva, dependia de apoio financeiro de seu pai e irmã. Como seu filho mais velho vivo era Jacob, então com 11 anos de idade, Dorothea rapidamente incutiu nele as responsabilidades de adulto. Nos dois anos seguintes, até 1798, o espírito de conselho de seu avô materno, continuamente os exortou a serem trabalhadores de bom grado.

No mesmo ano de 1798, os irmãos deixaram a vila de Steinau e sua família, e se mudaram para Kassel, no então Reino da Prússia, atual Alemanha, onde foram matriculados na prestigiada instituição de ensino Friedrichsgymnasium Kassel, graças a generosidade de sua tia materna, que comprometeu-se em arcar com as mensalidades de ambos os sobrinhos. Na falta de um provedor do sexo masculino, eles se confiavam um ao outro mutuamente. Embora os dois irmãos diferissem em temperamento – Jacob era introspectivo e Wilhelm mais extrovertido, eles compartilhavam uma forte ética de trabalho e se destacaram em seus estudos. Em Kassel tornaram-se extremamente conscientes de sua condição social inferior em relação aos alunos mais “bem-nascidos” que recebiam mais atenção. Cada irmão se formou: Jacob em 1803 e Wilhelm em 1804, porque perdeu um ano de escola devido a escarlatina.

O surgimento do romantismo, o nacionalismo romântico e as tendências em valorização da cultura popular no início do século XIX reavivaram o interesse em contos de fadas, que haviam declinado desde seu pico do final do século XVII. Johann Karl August Musäus publicou uma coleção do contos populares entre 1782 e 1787; os Grimm ajudaram o renascimento com sua coleção de folclore, construída na convicção de que uma identidade nacional poderia ser encontrada na cultura popular e com o povo comum (Volk). Embora eles tenham recolhido e publicado contos como um reflexo da identidade cultural alemã, na primeira coleta eles incluíram contos de Charles Perrault, publicado em Paris em 1697, escrito para salões de aristocracia francesa. Acadêmica Lydia Jean explicou o mito que foi criado de que os contos de Perrault, muitos dos quais eram originais, vieram das pessoas comuns refletindo um folclore existente para justificar a sua inclusão.

Diretamente influenciados por Brentano e von Arnim, que editaram e adaptaram as canções populares do Des Knaben Wunderhorn (A trompa mágica do menino ou Cornucópia), os irmãos começaram a coleção com o propósito de criar um tratado acadêmico de histórias tradicionais e de preservar as histórias como elas haviam sido transmitidas de geração para geração, uma prática que foi ameaçada pelo aumento da industrialização. Maria Tatar, professora de estudos da Alemanha na Universidade Harvard, explica que é justamente a transmissão de geração para geração e a gênese na tradição oral, que dá a contos folclóricos uma mutabilidade importante. As versões de contos diferem de região para região “pegando pedaços de cultura e folclore local, desenhando uma curva de frase de uma música ou outra história e consubstancia personagens com características retiradas do público testemunhando sua performance.”

No entanto, como Tatar explica, os Grimm se apropriaram de histórias exclusivamente alemãs, como a história Chapeuzinho Vermelho, que já existia em muitas versões e regiões de toda Europa, “acreditando” que essas histórias eram reflexos da cultura germânica. Ademais, os irmãos, ao verem fragmentos de fé, e de religiões antigas refletidas em histórias, conjecturaram que elas continuaram a existir e sobreviver através da narração de histórias.

Quando Jacob devolveu os 53 contos que recolheu para a inclusão no terceiro volume de Des Knaben Wunderhorn, Brentano ignorou ou se esqueceu sobre os contos, deixando as cópias em uma igreja na Alsácia onde foram encontrados em 1920. Conhecidos como o Manuscrito Olenberg, esta é a versão mais antiga existente das coleções de Grimm e tornaram-se uma fonte valiosa para estudiosos da evolução da coleção dos Grimm a partir do momento de sua criação. O manuscrito foi publicado em 1927 e novamente em 1975.

Embora os irmãos tenham ganhado reputação por sua coleta de contos de camponeses, muitos contos vieram da classe média ou aristocrática. A esposa de Wilhelm, Dortchen Wild e sua família, assim como sua empregada e babá, contaram aos irmãos alguns dos contos mais conhecidos, tais como Hansel and Gretel e A Bela Adormecida.

Quer ler alguns contos dos irmãos Grimm, acessa o link abaixo.

https://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/index?page=1

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