Autor: Fábio Anhaia

Em uma madrugada fria de inverno Rosário termina de vestir as crianças, sonolentas elas não entendem o que está acontecendo.
— Para onde vamos mamãe? — Questiona o filho mais velho.
— Vai ficar tudo bem meu filho! — Responde Rosário.
— Mas está frio, não quero ir… — Resmunga a filha do meio.
— Eu sei, mas é preciso! Pegue, beba essa xícara de café. — Insiste a mãe.
Rosário enrola o filho mais novo em um cobertor como se ele estivesse em um casulo e naquela noite fria saem os quatro. Em meio ao breu eles caminham depressa como se estivessem fugindo de alguém ou de algo, Rosário amarrou os braços dos filhos ao seu e os puxava como se fossem animais, eles caminham cerca de cinco quilômetros até um caminhão que os aguarda em uma estrada.
Na carroceria do caminhão o filho mais velho questiona a mãe:
— Para onde estamos indo?
— Para um lugar melhor, um lugar sem guerras, sem fome, sem cede, um lugar com oportunidades, um lugar de esperança. — Respondeu Rosário.
— E esse lugar existe? — Questionou o pequeno.
— Existe, aqui era assim, vivíamos bem, comíamos bem, mas depois da “grande tragédia” ficamos à mercê da miséria. — Revela Rosário.
— O “Senhor Esperança” que elegemos só terminou o serviço. — Completou a mãe decepcionada.
— E como a senhora tem certeza que lá é melhor? — Perguntou o menino.
— Eu não tenho, a única certeza que tenho meu filho, é que aqui não dá mais! — Respondeu Rosário.
O menino dorme junto aos irmãos e Rosário observa o nascer do sol, para trás ficaram as memórias de uma vida, desde que seu marido foi lutar na “grande tragédia” ela ficou só e naquela pequena casa de barro ela viveu até onde suportou, mas agora não há mais água, não há comida, não há mais vida. E o que Rosário pode fazer é seguir em frente com a saudade apertando no peito e a força da esperança viva, Rosário segue na carroceria do caminhão em busca de algo melhor, uma nova vida.
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